Mundo grande, terra alheia,
Por mais depressa que eu ande,
Mais devagar eu chego na minha aldeia
(Ponto de cablocaria)
Entre uma conversa e outra, nestes dias pós-eleições municipais, ouvi uma análise bastante dura: “em Joinville o PSOL se apequenou”. Em tom de crítica, que é honesta e bem intencionada, a sentença veio acompanhada do número de votos obtidos pelo partido nas eleições para vereadores. No último domingo, foram 688 votos no PSOL em Joinville. As duas candidaturas, Zelize e Tião, receberam respectivamente 372 e 142 votos. Outras 174 pessoas votaram na legenda. Um número um tanto abaixo de votações nas eleições anteriores.
É preciso dizer que o PSOL, partido que em maior ou menor medida, participa das eleições em Joinville desde 2008, no último período passou por um processo de reorganização na cidade. De 2021 para cá, foi praticamente refundado, a bem da verdade.
Um outro elemento é que a participação do partido nestas eleições não foi livre de controvérsias. Setores da esquerda na cidade defenderam abertamente que nosso partido, considerando uma certa fragilidade, deveria se abster de lançar candidaturas. Em nome de um “voto útil”, o PSOL oferecer alternativas sem viabilidade eleitoral poderia prejudicar a eleição de candidatos do nosso campo que seriam viáveis.
É uma questão legítima, não tenho dúvidas. Mas precisamos debater melhor a premissa do “voto útil”. É verdade que o cenário para o campo da esquerda em Joinville tem sido ruim nos últimos anos. Reconquistar espaço no parlamento municipal é necessário e é uma tarefa de todos. Ao mesmo tempo, a disputa eleitoral é instrumento de disputa de hegemonia. E isso significa que é uma plataforma para debate de ideias. Entendo que as candidaturas apresentadas pelo PSOL nestas eleições cumpriram esse papel. Mesmo reconhecendo nossa miudeza, fomos capazes de apresentar questões que são caras para nós: a candidatura da Zelize não titubeou em defender o antiproibicionismo na perspectiva da luta antirracista. Da mesma forma, foi enfática na defesa de uma cultura popular periférica - as batalhas de rap - denunciando a sua criminalização. A candidatura do Tião, que é servidor público da assistência social, tratou da questão das pessoas em situação de rua na cidade com bastante sensibilidade e apontando os caminhos necessários para uma política de acolhimento. Defensor do SUS, se posicionou durante a campanha firmemente contra as ameaças de privatização do Hospital São José.
Considerando uma perspectiva de futuro para as esquerdas em Joinville, ambas foram candidaturas necessárias do ponto de vista programático. Inclusive por manter o PSOL, mesmo que timidamente, vivo na disputa eleitoral municipal. Mesmo os nossos maiores críticos no campo da esquerda devem reconhecer a importância do PSOL no cenário político. Acredito que, entre nós progressistas, não há ninguém que defenda o fim do PSOL na cidade. Neste sentido, os votos mobilizados por estas candidaturas foram “úteis”. Se desviando da arrogância das organizações que se julgam imensas, reconhecemos a nossa pequenez na atual conjuntura local. Ao mesmo tempo, temos a dimensão da contribuição que podemos dar para a reorganização do campo das esquerdas em Joinville.
Travamos, lado a lado com Carlito Merss e os partidos da coligação (PT, PCdoB, PV e PSOL e REDE), uma disputa duríssima pra prefeitura de Joinville. Pautamos debates necessários: falamos da Tarifa Zero, enquanto instrumento de redução de desigualdades; denunciamos a especulação imobiliária e tratamos da necessidade de se retomar programas habitacionais; alertamos sobre a crise climática e a urgência de se construir uma cidade resiliente; enfim, fizemos o bom combate.
Contradizendo quem diz que o PSOL se apequenou, digo que saímos maiores - reconhecidos pela firmeza das ideias e pela disposição em construir unidade no campo popular e democrático. E esse resultado é fundamental para as lutas que se avizinham em Joinville.
Caso queira se somar, filie-se. Pode falar comigo. Será bem vindo!